Vida Celular

Tudo sobre os melhores celulares

Nós do Vida Celular e nossos parceiros utilizamos cookies, localStorage e outras tecnologias semelhantes para personalizar conteúdo, anúncios, recursos de mídia social, análise de tráfego e melhorar sua experiência neste site, de acordo com nossos Termos de Uso e Privacidade. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.

Marketing pode seduzir muitos usuários na hora de comprar um smartphone. Afinal, quem não quer um celular com o Snapdragon 888 — o melhor processador para dispositivos móveis da Qualcomm? O problema é que, nas entranhas do sistema operacional, muita coisa pode acontecer e acabar prejudicando a experiência de uso. A OnePlus se envolveu em uma modificação perigosa e, por isso, teve modelos retirados do Geekbench — por acusação de fraude.

Publicidade

Portais de benchmark não gostam quando descobrem que empresas estão inserindo gatilhos nos seus aparelhos para que liberem recursos adicionais e específicos para este procedimento. O intuito da OnePlus pode até não ter sido o de promover uma fraude para aumentar artificialmente a performance no Geekbench — mas as modificações sistêmicas colaboraram para que o teste de desempenho não demonstrasse a real experiência de uso do smartphone.

Uma lista VIP invertida

Tudo começou quando testes envolvendo a medição de performance via navegador chamaram a atenção por números bem abaixo do esperado para o Snapdragon 888. Resultados no OnePlus 9 Pro não chegavam à metade dos verificados em outros tops de linha com o mesmo hardware. Porém, quando o Vivaldi foi utilizado no lugar do Chrome, a performance esperada trouxe os números desejados.

Gráfico com desempenho do OnePlus 9 Pro, modelo acusado de fraude pelo Geekbench

Reprodução: Anandtech

Uma análise mais profunda de como o celular estava se comportando revelou que, ao invés de utilizar o núcleo mais poderoso do SoC — um Cortex-X1 — o dispositivo da OnePlus priorizou os três Cortex-A78 — o que seria no mínimo curioso, já que são núcleos intermediários e não deveriam ser o foco do processador em tarefas de estresse. O pior, porém, foi que em uma segunda tentativa, o Chrome passou a ter acesso apenas aos núcleos Cortex-A55 — de baixo desempenho e focados na economia de energia.

Como o outro navegador não experimentou esta limitação, uma investigação mais a fundo chegou a um procedimento por parte da OnePlus que levou a acusação de fraude pelo Geekbench: a depender do aplicativo, a empresa não estava aumentando a performance para enganar apps específicos — mas sim forçando aplicativos pesados e populares a trabalharem com menos recursos de forma proposital.

Chrome, WhatsApp, Zoom, e muito mais

Enquanto alguns podem achar a medida até sábia — já que Chrome e outros são famosos pelo consumo de bateria — o movimento da OnePlus chama a atenção por restringir processamento de forma pesada em apps muito populares do mercado. O navegador do Google é líder de mercado. O WhatsApp é muito popular na América Latina — e na Índia, onde a empresa tem representação oficial. O Zoom está sendo mais utilizado do que nunca. Sem falar do TikTok, outro que surgiu na lista VIP indesejada.

Outros apps que estariam tendo processamento restringido seriam Facebook, YouTube, Instagram, Snapchat, Discord, Pokémon GO, Uber, suíte Microsoft (como Word, Excel, PowerPoint e Outlook), Candy Crush, Adobe Reader, Twitch, Mozilla Firefox, e basicamente toda a suíte Google — e até de apps nativos da OnePlus (!).

Esta lista, porém, não é exaustiva: não foi possível detectar todas as aplicações que estão com desempenho restrito no sistema da OnePlus — o que levou a sua retirada do ranking do Geekbench pela acusação de fraude.

A resposta da OnePlus

O atual problema talvez não tivesse a mesma dimensão se a fabricante chinesa tivesse explicado esta política desde o lançamento do OnePlus 9 Pro. Não foi cometida nenhuma ilegalidade — mas a falta de transparência pode decepcionar alguns usuários, ainda mais quando falamos de um celular com o Snapdragon 888 que não estava tendo todo seu potencial aproveitado em uma série de apps utilizados pela maioria esmagadoras dos donos de smartphones.

Em comunicado, a empresa rebateu a acusação de fraude que a retirou do Geekbench, e informou que as medidas adotadas tanto no OnePlus 9 quanto a variante Pro consideraram a resposta dos usuários — que reclamavam, dentre outras coisas, da autonomia dos aparelhos anteriores e de problemas de aquecimento. A empresa teria observado no processo os requisitos de hardware, aplicação por aplicação, para garantir o uso estável:

Nossa prioridade é sempre fornecer uma ótima experiência do usuário com nossos produtos, com base, em parte, em agir rapidamente com base em comentários importantes do usuário. Após o lançamento do OnePlus 9 e 9 Pro, em março, alguns usuários nos falaram sobre algumas áreas em que poderíamos melhorar a vida útil da bateria dos dispositivos e o gerenciamento de calor. Como resultado desse feedback, nossa equipe de P&D tem trabalhado nos últimos meses para otimizar o desempenho dos dispositivos ao usar muitos dos aplicativos mais populares, incluindo o Chrome, combinando os requisitos de processador do aplicativo com a potência mais adequada. Isso ajudou a fornecer uma experiência tranquila ao reduzir o consumo de energia. Embora isso possa afetar o desempenho dos dispositivos em alguns aplicativos de benchmarking, nosso foco, como sempre, é fazer o que pudermos para melhorar o desempenho do dispositivo para nossos usuários.

Como dá para ver, a empresa não se desculpa pela prática ou muito menos promete uma correção para desbloquear o potencial total dos smartphones em todos os apps.

Retirada do Geekbench deve perdurar

Enquanto alguns podem achar curioso — mesmo após explicações — que o Geekbench encare o movimento da OnePlus como fraude, a decisão do portal faz sentido. Isto porque testes de benchmark visam simular a utilização típica do smartphone. Então, por mais que aqui o app de performance não seja priorizado, ainda assim ele não pode fornecer uma análise consistente — já que há uma série de software com acesso restrito a recursos.

Vale lembrar, a família OnePlus 9 também conta com o OnePlus 9R, que não foi “periciado” até o momento. É um modelo gamer voltado para o mercado indiano. Não se sabe se a sua ausência no comunicado da empresa significa que ele não sofra dessas limitações — ou se a fabricante optou por não confirmar mais informações do que já havia sido descoberto externamente.

Via AnandTech e XDA Developers