A HBO Max finalmente chegou ao Brasil, após estrear no ano passado nos Estados Unidos, e com uma ótima promoção de lançamento. A promessa da Warner Media é que tenhamos aqui uma plataforma dedicada para as franquias criadas ou adquiridas por seu conglomerado de mídia. Os apps já estão disponíveis para Android, iOS, Smart TVs e (alguns) TV boxes — e já exploramos um pouco do catálogo e da usabilidade do serviço.
Nossa experiência é baseada na versão para Android da HBO Max, rodando em um Samsung Galaxy S20. A primeira impressão é mista: o aplicativo é rápido não apenas para fazer a transição entre páginas, como carrega rapidamente os conteúdos. O problema é que a empresa torna as buscas e acesso particularmente burocráticas.
Primeira impressão mista
O primeiro problema é que a ferramenta de pesquisa apresenta tanto programas como episódios na busca — sem opção de alterarmos isto. Então, o usuário pode ser impactado com uma série de capítulos de shows não relacionados ao que busca, enquanto procura um programa pelo nome. O segundo problema talvez seja o pior: a HBO Max ainda não traduziu 100% dos nomes de programas, o que dificulta a caçada por algumas séries. Um Maluco no Pedaço não pode ser encontrada por seu nome em português, apenas se o usuário procurar por “Fresh Prince of Bel-Air”.
Outro ponto da experiência que atrapalha a boa fluidez do aplicativo é que programas seriados exigem um clique adicional para iniciarem um episódio. Enquanto a maioria dos serviços de streaming mostram sinopse já na lista de capítulos, o HBO Max apresenta apenas o título e uma miniatura. Com o toque, o usuário vai para outra página com mais detalhes daquele episódio. Dali, sim, é possível iniciar o conteúdo.
Por último, algo mais a ser resolvido pela plataforma é que antes de abrir um conteúdo — se sua tela apagar pelas mais diversas razões — o app insiste que você ficou offline, sendo necessário clicar no botão de verificação da conexão.
O player do HBO Max
Algo que pode agradar é a possibilidade do HBO Max trabalhar com marcadores dentro do seu acervo. Por exemplo, o corte de Zack Snyder para Liga da Justiça traz os “episódios” etiquetados no player. Basta clicar em alguma das marcações para avançar diretamente. Particularmente útil para utilizar com a função de Chromecast ativada.
Aqui, porém, também há comportamentos que poderão incomodar usuários. Um deles é que não é possível simplesmente clicar em um ponto do conteúdo, pela barra de reprodução, a ser não ser que estes marcadores — criados pelo próprio serviço — estejam disponíveis. É necessário arrastar o ícone indicador de reprodução pela barra. Pode parecer besteira, mas em um celular de proporção 20:9 ou mais, é um “longo” caminho quando se deseja mover um conteúdo do início diretamente para um ponto mais avançado.
Outra peculiaridade do reprodutor do HBO Max é que, após uma interação, os botões não somem da tela automaticamente. É necessário dar outro toque fora das opções disponíveis para uma transição retornar ao vídeo em tela cheia. Para conteúdos legendados, a boa notícia é que o app permite grande personalização: é possível mexer na fonte, tamanho dela, cor, opacidade, ativar tridimensionalidade para destacá-la em relação ao conteúdo, ativar um plano de fundo, e outros.
Ainda sobre o player, há função de autoplay de conteúdo — útil para quem está disposto a embarcar em maratonas, ou aqueles que simplesmente gostam de deixar a TV ligada. O problema é que ela não é uma opção: o usuário precisa se acostumar com a presença dela aqui, já que não é desativável. Assim como em outros serviços, muitos programas já oferecem um botão de pular a abertura.
Catálogo incompleto
Desde que conglomerados de mídia iniciaram o movimento de terem suas próprias plataformas de streaming, o mínimo que esperávamos era o acervo completo dessas empresas nos serviços proprietários. É o que acontece no HBO Max no Brasil? Definitivamente não. O usuário vai encontrar as séries, filmes e documentários originais, e muito conteúdo do Cartoon Network, Adult Swim, DC, HBO e outros. Mas há uma série de ausências notáveis por aqui.
A começar pelos hubs — sendo botões no serviço que direcionam diretamente para conteúdos de marcas agregadas da Warner Media — não temos acesso aos hubs da TCM, Studio Ghibli, Crunchyroll, Looney Tunes, ou do Adult Swim. No caso da Crunchyroll a decisão pode ter relação com o processo de venda desta divisão para a Sony. O conteúdo da Ghibli é exclusivo dos EUA — já que a Netflix abocanhou os direitos no restante do mundo (incluindo o Brasil). Porém, nada explicou, até o momento, o porquê o hub do Adult Swim — que já possui seis séries disponíveis no país — ficou de fora.
Também chama a atenção que alguns programas infantis clássicos — como Tom & Jerry e Looney Tunes — não foram disponibilizados até agora. Pernalonga já possui uma série original no serviço — lançada neste ano. Tom & Jerry são representados, no momento, apenas por seus longas-metragens.
Outro problema de conteúdo é que, mesmo desenhos animados já disponíveis — e finalizados há anos — como O Incrível Mundo de Gumball e Apenas um Show — estão com poucas temporadas disponíveis. Mesmo uma das maiores apostas dos últimos anos do Cartoon Network — Jovens Titãs em Ação — só aparece com a sexta temporada disponível. Esse resultado só aparece para quem buscar pelo nome em inglês, “Teen Titans Go”.
Pouca coisa explica a ausência de tanto material no serviço, mas o motivo menos absurdo para isto seria o “lançamento” constante de conteúdo. Com apenas um ano de estrada, o HBO Max ainda não possui uma biblioteca original tão massiva quanto a da Netflix, por isso — assim como o Disney Plus faz no Brasil — mesmo franquias clássicas e outras já finalizadas ficam para depois, para aumentar o apelo a novos assinantes e como forma de manter os atuais pagando por mais tempo.
Personalização
Assim como as legendas dão bastante liberdade para o usuário deixá-las como quiser, o consumidor pode alterar sua foto de perfil para personagens da Warner, ou então subir sua própria fotografia. Também é possível escolher dentre cinco padrões de cores diferentes para utilizar no app, todos combinando duas cores que se fundem de forma gradiente.
Cada perfil tem sua própria página inicial na HBO Max, e um dos primeiros elementos de interface é uma lista de programas que não foram finalizados, para lembrar o usuário de onde ele parou. Downloads estão disponíveis — e podem ser configurados para armazenamento offline de temporadas inteiras, ou apenas de episódios específicos. É possível ainda mexer em como os arquivos serão transferidos para o armazenamento local: de forma rápida, gastando menos Wi-Fi ou dados móveis, ou em alta-definição.
Transparência
Para o usuário depender menos da internet ou redes sociais, o menu lateral do HBO Max oferece dois acessos interessantes: o “Em breve” e o “Últimos dias”. O primeiro exibe todas as séries que são exibidas em formato simulcast — ou seja — chegam assim que novos episódios são exibidos na TV norte-americana ou são lançados no HBO Max dos Estados Unidos. A página acusa mesmo o dia nos quais novos episódios ficam disponíveis.
Já a última serve para mostrar os conteúdos que, por alguma razão, deixarão o serviço. O esperado de um streaming comandado pela própria empresa que detém a maioria esmagadora dos direitos autorais dos conteúdos é que isso não aconteça da mesma maneira que ocorre na Netflix — ainda muito conhecida por ser um hub agregador do mercado. Mas, pelo visto, ainda assim pode acontecer — e é interessante que a empresa promova esta iniciativa de transparência, para que ninguém seja surpreendido do dia para a noite
Conclusão
Em uma rápida análise, a HBO Max mostra que, mesmo levando mais de um ano para sair dos Estados Unidos e vir para a América Latina, não fez a lição de casa como deveria. O aplicativo tem problemas; a forma de se acessar os shows é burocrática; é um tanto inadmissível o usuário brasileiro ter que buscar por títulos em inglês; e pouca coisa explica a ausência de temporadas ou shows inteiros cujos direitos de licenciamento e distribuição são da própria Warner.
A HBO Max já é um belo avanço em relação ao antigo HBO GO. Mas convenhamos, o HBO GO nunca foi um serviço competitivo frente aos principais streamings do mercado. Cobrar R$ 27,90 mensais (ou R$ 19,90 para o plano de uma tela) pelo serviço, do jeito que está, vai parecer muito para alguns. Porém, a já citada promoção de lançcamento oferece 50% de desconto, o que derruba a mensalidade para R$ 13,95 (ou R$ 9,95), preço com o qual o HBO Max compensa plenamente, mesmo na forma que chegou.
Claro, a tendência é que ajustes do app sejam promovidos conforme a empresa atenda as reclamações dos usuários. E como comentamos, o acervo deverá crescer com o passar dos meses, afinal, conteúdo no HBO Max lá fora é o que não falta. Do jeito que está, o usuário já têm acesso ao material original do serviço na íntegra e aproveita filmes e séries da HBO — e também terá os eventos esportivos da TNT, e um ou outro pedaço das marcas Cartoon Network, Turner, Adult Swim e DC.
Ainda estamos longe da experiência completa do serviço — já oferecida nos EUA e que inclui os lançamentos cinematográficos no mesmo dia para os apps. Por aqui, mesmo estes longas-metragens levarão 35 dias para chegarem ao HBO Max. Parece que o amadurecimento ainda é necessário, já que o serviço não está desembarcando de forma arrasadora no Brasil.