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É uma coisa bem pessoal, mas algumas pessoas tem mais problemas com procrastinação que outras. A pandemia de Covid-19 fez com que muitas empresas acelerassem para o modelo remoto de trabalho e, embora a adesão ao mundo de videochamadas e workplaces virtuais tenha sido rápida, em nem todos os casos a produtividade acompanhou o ritmo. E é para lidar com um cenário de falta de foco que surge o Focusmate: o serviço promete simular um escritório online, conectando pessoas a “colegas de trabalho” nos smartphones e no PC.

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Na sua proposta mais básica, o Focusmate funciona assim: você cria uma conta gratuita no site e, uma vez feito o login, o serviço pede seu fuso horário (ou detecta, dependendo do seu navegador). Para funcionar, basta uma câmera frontal no celular.

Depois das configurações, você cai em um dashboard da semana, na qual aparecem duas opções: a de agendar um horário ou de entrar em uma sessão já decorrente. Na mesma planilha aparecem os horários já programados por algumas pessoas, bem como as tarefas em que elas estão trabalhando.

Duas telas do dashboard do aplicativo

Imagem: Gabriel Daros/Vida Celular

No momento, é permitido agendar três chamadas semanais gratuitamente — o que é tempo suficiente para você dedicar àquele projeto paralelo engavetado há algumas eras. O plano premium do Focusmate permite ao usuário simular um escritório online quantas vezes quiser, algo mais indicado para heavy users do negócio.

As sessões duram uma hora — cinquenta minutos de trabalho, e dez minutos para pausa no fim do horário. Embora o serviço presuma que as chamadas sejam feitas com falantes em inglês, os participantes podem se conectar de qualquer lugar do mundo. O Focusmate alega ter conectado cerca de 10.000 pessoas de 160 países diferentes só em março deste ano, então é de se esperar que eventualmente um matchmaking por idioma esteja disponível.

O colega certo de trabalho

A estratégia do Focusmate de simular um escritório online para combater a procrastinação é chamada de body double, ou “dublê de corpo”, e é utilizada para auxiliar pessoas com déficit de atenção a se concentrar. Por estar diante um segundo sujeito no mesmo ambiente resolvendo um conjunto de tarefas, você se motiva a resolver as suas em conjunto.

O princípio é simples, mas não é possível de ser aplicado com todo mundo. Enquanto o ambiente corporativo até permite criar relações de afinidade, uma sessão de trabalho com pessoas próximas pode abrir espaço para assuntos paralelos. No Focusmate, a ideia é resolver isso com uma pessoa desconhecida e simpática, mas também dedicada ao trabalho. E assim, o ciclo de produtividade se alimenta.

Para garantir que a sessão seja estritamente profissional, o Focusmate elaborou algumas diretrizes, intituladas “Promessas da Comunidade”: honrar seus compromissos, ser gentil, manter a conversa apenas no começo e no final da sessão e, especialmente, tratar o seu colega com profissionalismo.

O serviço não possui nenhuma regra contra ser descontraído, mas espera que você reserve flertes para outras plataformas. Cantadas, condutas sexuais, nudez e comentários inapropriados são passíveis de banimento. O mesmo vale para discursos de ódio, ameaças de violência ou até mesmo propostas de venda de produtos.

Janelas para expedientes futuros

Resolvi testar uma sessão do Focusmate, marcando o escritório online para as 18h no horário de Brasília. Dez minutos antes da chamada começar, recebo uma notificação no meu Google Agenda. Segui as recomendações do serviço antes da chamada começar: ir ao banheiro, abastecer minha garrafa d’água, fechar o excesso de abas e apps no computador.

Aceito os termos de uso e testo o microfone e câmera antes de começar. A espera trouxe um pouco de ansiedade. A página do serviço explica que o serviço era destinado para os mais diversos profissionais — de freelancers e profissionais de home office a escritores, designers e empreendedores num geral. Sei o que esperar do outro lado da tela, porém não sei como lidar com a ideia de ficar confortavelmente em silêncio com um completo desconhecido por uma hora.

Minha sessão marcada começa. Minha dublê usa o apelido Kim & Sushi e ela é de Calgary, Alberta, no Canadá. Está vestida casualmente e me recebe simpaticamente com um alô. Se apresenta como uma acadêmica que recém retornou ao horário integral de estudos após dificuldades com um expediente das 8h às 16h, e faculdade em meio período. E agora, precisa terminar um artigo sobre propaganda militar.

Quando pergunto sobre o nome composto, ela explica que é porque Sushi, a gata dela, por vezes faz parte das chamadas. Infelizmente, nesta sessão isso não acontece: ele está dormindo.

duas capturas de tela da chamada de Kim

Imagem: Gabriel Daros/Vida Celular

Apresento-me como repórter de tecnologia e explico os motivos da chamada: este texto. Kim já tem mais de 633 sessões realizadas e diz que há uma notificação de “primeira vez” sobre o meu usuário. O microfone dela silencia repentinamente. Para corrigir o erro, ela sai da sala e retorna — felizmente, sem estar de cabeça para baixo ou com filtro de gatinho.

Antes da sessão começar, Kim pergunta se prefere que mantenha o microfone desligado ou não. Respondo que o som do trabalho ajuda na atmosfera do escritório online. Ela concorda, diz o mesmo e começamos o trabalho.

A sessão do Focusmate me dá um pequeno vislumbre do que podem vir a ser os expedientes híbridos de um futuro não tão distante. De teclados, rabiscos e respirações a sirenes e carros com música no alto, minha câmera frontal faz às vezes de janela. Kim trabalhou ao som de meus cachorros ao fundo, com pausas para um cafuné em Sushi.

Uma sineta notificou o fim do horário de expediente. Kim me explicou que os usuários podem criar grupos focados em temas, como escrita, música ou, no caso dela, “Mulheres com TDAH”. E conta que participou até de uma sessão com um violoncelista praticando — no mudo, claro.

Terminou me enviando o link de sua agenda, dizendo que se quisesse marcar outra sessão em um horário livre com ela, era só dar um alô. Agradeceu pela companhia mostrando o planejamento do artigo concluído. E eu agradeci de volta, terminando a sessão —  e este texto.

Via FastCompany

Imagem: Valentin Russanov/iStock.com