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Entregadores do app Instacart estão sendo desligados da ferramenta sem qualquer tipo de aviso prévio e perdendo a única fonte de renda que possuem. Os trabalhadores afirmam que a empresa está realizando as desativações em virtude de uma suposta ocorrência de fraude nas contas. Ao mesmo tempo, a Instacart não oferece o suporte necessário para os compradores que questionam o que está acontecendo. “Compradores” é como também são chamados os entregadores que, além do transporte das mercadorias, entram nos locais para realizarem as compras dos pedidos feitos no app.

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Por email, os trabalhadores receberam a informação com os dizeres “sua conta está vinculada a outra(s) conta(s) na plataforma Instacart. Como resultado, desativamos sua conta de comprador”. Os compradores apontam que as desativações são injustificadas, pois eles nunca criaram contas duplicadas ou agiram de forma fraudulenta. Já um porta-voz da empresa declara que não houve nenhuma violação ou hack da plataforma, e que os desligamentos se deram por conta de links que a equipe de Trust & Safety do aplicativo detectou como fraudes. O porta-voz da Instacart também informou que os entregadores que conseguirem comprovar que foram desligados por um motivo além de seu controle poderão ser reintegrados.

Entretanto, os trabalhadores não conseguem obter informações sobre quais procedimentos devem tomar para solucionarem seus problemas. Os emails recebidos por eles não fornecem nenhuma informação sobre qual documentação é necessária para que a desativação seja revista. Há casos em que os trabalhadores tentaram enviar fotos de suas carteiras de motorista, comprovantes de residência, certidões de nascimento e cartões de previdência social mas, mesmo assim, tiveram seus pedidos de revisão rejeitados.

Problemas recentes com hackers

Nos últimos meses, trabalhadores do app foram alvo de hackers e golpes que diminuíram seus ganhos, assumiram o controle de suas contas e/ou roubaram seus dados pessoais. Muitos dos entregadores do Instacart desligados agora afirmam que tiveram suas contas hackeadas e invadidas no ano passado. A Vice analisou as evidências de que três contas que foram recentemente desativadas pela empresa também foram hackeadas por golpistas que roubaram códigos de segurança para fazer login em suas contas e iniciaram pedidos de compras.

Problemas dessa natureza têm ocorrido com diversas empresas de serviços por app, onde as condições de trabalho são frequentemente determinadas por um algoritmo opaco, com as desativações sendo acionadas por um computador em vez de um ser humano. Em essência, ser desativado é como ser despedido por um chefe que não se explica e com quem você não pode falar. Os trabalhadores afetados no caso atual da Instacart se sentem desolados, não sabendo a quem recorrer ou como agir, com o agravante da perda da renda que tinham para se sustentar.

Crescimento da Instacart e batalha da empresa contra direitos trabalhistas

Em 2020, a californiana Instacart cresceu de forma bastante acelerada e se tornou uma das maiores empresas dos Estados Unidos na chamada “gig economy”, que engloba formas de emprego alternativo (como prestação de serviços por aplicativo ou o trabalho de freelancers). Dezenas de milhares de trabalhadores americanos em situação de desemprego viram no app de entrega e coleta de alimentos uma forma de garantir alguma renda. Em paralelo, surgiam os efeitos da pandemia da Covid-19 e do isolamento social, gerando uma alta demanda por serviços delivery.

Hoje, a Instacart possui mais de meio milhão de contas de entregadores nos Estados Unidos e pode estar avaliada em mais de US$ 39 bilhões este ano (mais de R$ 212 bilhões atualmente). A empresa gastou mais de US$ 27 bilhões (em nossa moeda, quase R$ 147 bilhões) para promover politicamente no país a Proposta 22, que impede proteção trabalhista a funcionários de apps, além de direitos básicos e garantias, como salário mínimo e direito de sindicalização.

Enquanto isso, o direcionamento político norte-americano, aparentemente, vai em direção contrária às vontades da empresa, como mostra uma recente afirmação de um secretário de Joe Biden, dizendo que motoristas de Uber e Lyft são funcionários.

Via CNN e Vice