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No começo do mês, o Bradesco anunciou mudanças nas respostas de sua assistente baseada em inteligência artificial, a BIA. O banco afirmou ser uma ação contra o assédio, iniciando uma campanha pesada em veículos de comunicação, como televisão e internet. Em seu anúncio sobre a novidade, a empresa inicia o texto dizendo que “Há séculos, as mulheres são as principais vítimas do assédio sexual e da importunação sexual, além de sofrerem também com o assédio moral”.

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A publicação segue, colocando que, desde 2018, quando a BIA passou a atender clientes, o banco presenciou diversas interações indesejadas e ofensivas. Dentre um conteúdo robusto de informações importantes sobre o que é assédio, como combatê-lo, as iniciativas do banco contra o assédio e a quem recorrer, há exemplos dos casos desrespeitosos dos quais a BIA foi alvo.

telas de celulares com chats em que a BIA é assediada

Nas imagens ilustrando tela de celulares com exemplos das respostas anteriores e atuais no chat, vemos que o tom da assistente virtual do Bradesco mudou, sendo mais contundente sobre o linguajar repulsivo. Porém, ainda são respostas baseadas em uma programação de software. Neste ponto, a iniciativa que fez uso de uma campanha de impacto massivo também foi alvo de inúmeros ataques e questionamentos.

Por exemplo, no post que o perfil oficial do Bradesco no Twitter fez sobre a ação, os comentários recebidos foram desde ataques mais ruidosos a colocações bem pertinentes. Parte do que era comentado foi a respeito das respostas automáticas dadas pela BIA a partir de palavras-chave. A assistente virtual do Bradesco estaria dando respostas “absurdas” a perguntas ou palavras quaisquer. Em um teste, a inteligência artificial se mostrou ofendida ao ser feito um pedido para que ela desse um emprego e respondeu sobre racismo ao ser digitada somente a palavra “macaco”.

Tela de app WhatsApp com chat e respostas da assistente BIA do Bradesco

A postagem do canal do Bradesco no YouTube sobre as novas respostas da assistente virtual está com um número muito maior de descurtidas, sem contar os inúmeros comentários negativos. Porém, cabe ser lembrado que movimentos coordenados de ataques contra pautas legítimas costumam ocorrer na plataforma.

O que pode ser questionado

O questionamento feito é de que, ao invés de promover, a ação possa estar banalizando um combate válido contra o assédio. Há também quem veja nessa movimentação da empresa uma forma de desviar o foco de problemas mais recorrentes em seus serviços bancários e com aplicativos do banco. O app Bradesco Saúde, do Bradesco Seguros, por exemplo, foi baixado mais de 1 milhão de vezes e tem uma nota um pouco acima de 2 na loja do Google, com inúmeros comentários negativos na Play Store.

Além disso, até onde essa campanha não se limita a um projeto de marketing, sem atos concretos do próprio banco para proteger as mulheres, tanto dentro de seu corpo de funcionários, como fora dele, com clientes e a sociedade em geral? A pergunta se dá também por causa de um histórico do Bradesco. Como exemplo recente dessa condição delicada (para falar o mínimo) do banco em relação a casos internos de assédio, há pouco mais de um ano, a instituição financeira foi obrigada pela Justiça a banir a prática de assédio moral dentro da empresa.

Há também quem aponte um certo vínculo de apoio da instituição financeira ao presidente Jair Bolsonaro. O atual Chefe do Executivo Federal já foi condenado por danos morais após ataques feitos a uma jornalista da Folha e a uma deputada do Partido dos Trabalhadores. Bolsonaro também é visto como alguém que tem as mulheres em geral como alvo preferencial de seus ataques mais ferozes.

O combate ao assédio moral e sexual (e virtual) é importante e medidas assim, quando propostas de forma legítima por grandes empresas, são bem vindas. Ao Bradesco, aparentemente, é necessário ir muito além do campo de respostas automáticas de uma assistente baseada em inteligência artificial e do chat em WhatsApp com um robô.

Palavras do Bradesco

Em contato com o banco, apresentamos nossas indagações acima, abrindo à empresa um espaço para suas considerações. O Bradesco reafirmou que a BIA é uma inteligência artificial, não sendo um simples bot com mensagens configuradas para serem dadas após palavras-chave. Quanto às críticas que a ação recebeu, o banco diz que estimular conversas sobre o tema é um passo importante para reflexão da sociedade.

Nas palavras do banco, “A BIA é uma inteligência artificial que responde perguntas em linguagem natural a partir de curadoria humana especializada, associação de intenções e reforço de aprendizado. Só em março ela respondeu mais de 50 milhões de interações. Como toda pauta humanista, surgiram críticas e certa dificuldade de entendimento sobre o tema, mas consideramos que estimular essas conversas é mais um passo importante para a reflexão da sociedade e para a evolução conjunta.

Tudo isso é mais do que uma campanha que aborda o assédio contra mulheres, é uma manifestação do propósito do banco quanto à crença da sua responsabilidade no combate ao assédio, em linha com a iniciativa “Hey Update My Voice” da UNESCO. O filme está alinhado com movimentos corporativos mais amplos do Bradesco, como o #AliadosPeloRespeito, com ações que provocam reflexões sobre gênero, etnias, pessoas com deficiência e LGBTI+”.

Imagem: Phillip Gluckman/Unsplash/CC