

Pesquisadores de cibersegurança dizem que alertam há anos o Grindr de que a plataforma tem problemas graves de privacidade e segurança, mas a companhia não faz nada sobre o assunto, mesmo com a multa milionária que recebeu esse ano. E isso ficou ainda mais claro esta semana, com o caso de um padre que foi exposto usando o Grindr por uma publicação católica, e teve que renunciar ao seu posto na igreja.
“O Grindr já foi avisado sobre isso. Eles obviamente não se importam”, disse Matt Mitchell, pesquisador de privacidade e cibersegurança, à Motherboard, sobre a facilidade de usar os dados de localização supostamente anônimos do app para identificar e expor pessoas. “A companhia devia ter feito mais desde o primeiro dia. Quer dizer, eles lançaram o app sem nenhum plano de negócios, só como uma ideia legal. Desde então, a segurança e privacidade dos usuários ficam em último lugar.”
Como Alex Lomas, pesquisador do Pen Test Partners, escreveu sobre os problemas de privacidade do Grindr já em 2019: “Fornecendo locais falsos (latitude e longitude), é possível ligar essas distâncias a perfis de vários pontos, e aí triangular os dados para chegar até a localização exata daquela pessoa”. No ano passado, foi revelada uma falha permitia o roubo de contas com endereços de e-mail.
Sobre o que aconteceu com o padre americano esta semana, Lomas disse à Motherboard: “Já mostramos que há vários jeitos de desanonimizar pessoas pelos dados de localização do Grindr, então se você consegue obter a localização de um aparelho com o tempo, esse tipo de coisa é muito fácil de acontecer”.
Em 2016, pesquisadores de cibersegurança japoneses demonstraram como conseguiam localizar qualquer pessoa no Grindr em poucos minutos, criando contas falsas com geolocalização enganosa. E os pesquisadores conseguiam localizar essas pessoas mesmo se o usuário tivesse desligado a função que mostra sua distância para parceiro em potencial.
“Ninguém deveria sofrer doxxing e ser exposto por relacionamentos entre adultos com consentimento, mas o Grindr nunca tratou seus usuários com o respeito que eles merecem”, disse o pesquisador de rastreamento de dados Zach Edwards à Motherboard. “E o app do Grindr compartilha dados dos usuários com dezenas de empresas de anúncios e análise há anos.”
O Grindr não respondeu aos pedidos de comentário da Motherboard.
Imagem: Kaspars Grinvalds/Shutterstock