Um usuário cego decidiu transcrever as conversas de uma sala no Clubhouse da qual participava, e o resultado é que ele teve a conta suspensa sem aviso prévio. O britânico Jurgen Donaldson compartilhou o link da sala no Twitter e utilizou o app de transcrição automática Otter.AI para gerar as legendas dos áudios. O usuário trabalha com recrutamento, e ao compartilhar o link da sala do Clubhouse com a transcrição do áudio, Donaldson pretendia fazer com que a conversa fosse acessível para pessoas com deficiência auditiva. Mas, isso representou uma quebra nas regras do app de conversas que proíbe transcrições, gravações e reprodução de conteúdos do Clubhouse sem permissão.
Em entrevista ao site Business Insider, Jurgen Donaldson conta que no dia seguinte ao que publicou o link da sala no Twitter, acordou e estava com a conta suspensa. Tudo o que recebeu de informação foi um aviso padrão do aplicativo. Ele não recebeu nenhum email ou qualquer outro tipo de contato prévio que explicasse a situação. Em seguida, ele escreveu um novo tweet, desta vez, reclamando do ocorrido e marcando o Clubhouse. O post chegou a ter 516 curtidas e foi compartilhado 152 vezes, mas não gerou nenhum resultado. Só quando entrou em contato com um colega que trabalha em uma revista que conseguiu reverter a situação. Novamente, sem nenhum sinal, mensagem ou aviso, ele teve sua conta reestabelecida.
Problemas com acessibilidade
Jurgen Donaldson não foi o único que reclamou da falta de acessibilidade para cegos ou surdos no app. Outros pessoas também se manifestaram. Jennifer Brown, mulher surda que usa o Twitter para comentar como outras plataformas são acessíveis ou não, se recusou a usar o Clubhouse. Em conversa com a Business Insider, ela comentou que “se uma empresa não tem em seus planos a acessibilidade, isso significa que pessoas como ela não são bem-vindas nesses espaços”.
O jornalista Liam O’Dell, que é parcialmente surdo, chegou a usar o Clubhouse, mas abandonou o app pelas dificuldades que teve. Ele comentou que chegou a sentir sobrecarga cognitiva ao hospedar uma sala no app de conversas devido à sua complicação auditiva. Esse tipo de tensão psicológica acontece quando uma pessoa precisa realizar muito esforço para compreender ou assimilar uma quantidade de informação. Ele também comentou que se sentiu mais confortável com o Twitter Spaces, ferramenta concorrente do Clubhouse. Isso porque o recurso do passarinho azul fornece transcrições automáticas para os usuários.
Mudanças no app
Apesar de fechados e despreparados para incluir pessoas com deficiência em sua sua plataforma, a equipe do Clubhouse parece estar preocupada em mudar. Donaldson conta que em fevereiro, um dos desenvolvedores do app participou de uma sala em que pessoas cegas ensinavam outras a como usar o aplicativo e davam dicas de recursos para ter uma boa experiência naquele espaço.
Um semana depois, o Clubhouse disponibilizou uma atualização que continha diversas alterações que surgiram de tópicos apontados durante a conversa que durou uma hora. Com isso, ele acredita que o Clubhouse pode passar a ter ferramentas de inclusão para surdos e deficientes auditivos em diversos níveis.
Imagem: William Krause (Unsplash)