A Qualcomm anunciou nesta quarta-feira (13/1) a compra da Nuvia, uma startup de processadores formada por ex-funcionários da Apple. A operação custou US$ 1,4 bilhão (em torno de R$ 7,4 bi) e mira, segundo a fabricante, um avanço no desempenho das CPUs frente às exigências da tecnologia 5G.
“A equipe da Nuvia já se provou inovadora e, como a Qualcomm, possui uma forte herança na criação de tecnologia e produtos de ponta”, disse Cristiano Amon, presidente e CEO eleito da companhia de San Diego. “Juntos, estamos em uma boa posição para redefinir a computação e permitir que nosso ecossistema de parceiros impulsione a inovação e apresente uma nova classe de produtos e experiências para a era 5G”, completou.
Com pouco mais de um ano de existência, a Nuvia foi fundada por três ex-engenheiros de processadores da Apple: Gerard Williams III, atual CEO da empresa, Manu Gulati e John Bruno. Os três se juntarão à Qualcomm, assim como todo o portfólio de chips e modems da startup. De acordo com o site Crunchbase, que fornece informações comerciais sobre empresas privadas e públicas, a Nuvia conta com menos de 100 funcionários.
“A liderança na performance de processadores vai ser fundamental para definir e entregar na próxima era de inovação em computação”, disse Williams, que foi arquiteto-chefe de CPUs da Apple por oito anos. “A combinação da Nuvia e da Qualcomm vai reunir os melhores talentos e recursos de engenharia para criar uma nova classe de plataformas de computação de alto desempenho, que vão definir o padrão da nossa indústria”, ressaltou.
A Qualcomm pretende usar a tecnologia da startup em uma ampla variedade de dispositivos. O comunicado da fabricante menciona que os processadores da Nuvia vão alimentar “smartphones, laptops de última geração e cockpits digitais, assim como sistemas avançados de assistência ao motorista, realidade estendida e soluções infraestruturais de rede”.
Disputa com a Apple
A compra da Nuvia pela Qualcomm vem em um momento de transformação no mercado de chips. Antes dependentes de figurões do hardware como AMD e Intel, empresas como Apple e Amazon passaram a montar equipes internas de design para aperfeiçoar seus sistemas de processamento físico. Uma marca da nova era foi o fim da parceria da Apple com a Intel, anunciado em junho de 2020.
A relação da Qualcomm com a empresa de Cupertino também não tem sido das melhores. Após uma disputa por patente que foi parar na Justiça em 2019, a Apple estaria desenvolvendo seu próprio modem para celulares. Aparentemente, tudo para se livrar da parceria com a companhia de San Diego, que se encerra em 2025.
Neste cenário, a compra da Nuvia pode ser uma boa saída para a Qualcomm. Isso porque a startup está construindo um chip personalizado mais flexível – baseado na arquitetura ARM, como o Apple Silicon – que pode resultar em uma variedade de CPUs nos próximos anos. Chamado de Phoenix, o chip daria à Qualcomm uma boa margem não apenas nos data centers – onde a Intel ainda lidera o páreo – como em outras áreas.
“Nosso molho secreto são os recursos de design físico e a microarquitetura”, disse Williams à “VentureBeat”, no ano passado. “É aí que você vê a diferenciação entrar em jogo para qualquer pessoa que constrói um processador”.
O que fica claro, no entanto, é que, por trás do discurso do 5G, há uma preocupação da Qualcomm com a Apple. A inclusão de pronunciamentos de empresas como Microsoft no comunicado oficial e a aquisição em si indica uma reação da Qualcomm à crescente percepção de que os novos chips da Apple teriam um desempenho superior ao resto da concorrência.
Via The Verge e Ars Technica