Em breve, a Apple deve lançar sua polêmica atualização do iOS que poderá limitar o acesso das empresas aos dados dos usuários do iPhone. E essa ferramenta tem gerado incômodo nas grandes marcas de tecnologia e desenvolvedoras. Não por acaso, algumas empresas, incluindo a Procter & Gamble (P&G), se reuniram com o governo chinês para desenvolver uma ferramenta que burla o sistema de anti-rastreamento da Apple.
Chamada de CAID, a tecnologia está sendo desenvolvida pela Associação de Publicidade da China (que é estatal) e conta com apoio de nomes como ByteDance, Tencent e Baidu. Na lista, outras empresas ocidentais estão ao lado da responsável pela marca Gillette, dentre elas a Deloitte LLP, PwC (PricewaterhouseCoopers) e Nielsen Holdings.
A Apple já havia emitido um comunicado se posicionando sobre o assunto, alegando que usa seu recurso de anti-rastreamento até em seus próprios apps e que irá identificar quaisquer ferramentas que tentem burlar isso. Inclusive, alguns apps que foram detectados com mecanismos para driblar a ATT receberam um aviso de que tinham 14 dias para remover esse recurso invasor, caso contrário seriam removidos da App Store.
Impactos na publicidade
A nova política de privacidade que será implementada na atualização do iOS permitirá aos usuários escolherem se permitem ou não que apps recolham informações específicas sobre seu comportamento. Caso recusem compartilhar, as empresas por trás dos apps só terão acesso a dados genéricos do usuário e isso pode gerar impactos no modo como a publicidade digital atua.
Apps recolhem dados específicos de seus usuários para montar um perfil mais preciso e, com isso, possam vender os dados que serão utilizados por empresas de publicidade que conseguem entregar anúncios mais precisos. Essa, inclusive, é a principal reclamação do Facebook quanto a essa política de privacidade.
Sendo uma das multinacionais líderes em produtos e publicidade, a Procter & Gamble também pode ter seus negócios impactados pela ferramenta anti-rastreamento da Apple. Contudo, não justifica seu envolvimento em uma ferramenta que burla essa barreira. Afinal, até Mark Zuckerberg aceitou se adaptar às novas regras do iOS.
Resposta das empresas
O jornal Wall Street Journal (WSJ) conseguiu contato com a P&G para tentar conseguir explicações quanto ao seu envolvimento com o governo chinês no projeto do CAID. A empresa publicou uma nota na qual afirma que seu compromisso é entregar publicidade de qualidade aos consumidores, respeitando sua privacidade. Contudo, não deu informações quanto ao projeto chinês nem como pretende usar essa tecnologia.
As outras companhias ocidentais envolvidas no mecanismo para burlar o anti-rastreamento da Apple também foram procuradas. Os representates da PwC e Nielsen não responderam ao jornal, enquanto a Deloitte se recusou a comentar o assunto.
Contudo, a parceria dessas grandes empresas ocidentais ligadas à publicidade no projeto do CAID é um tanto quanto inesperada. Aaron Shapiro, ex-chefe executivo e co-fundador da agência de marketing digital Huge Inc., comentou ao WSJ que os mais afetados pela atualização do iOS são as pequenas empresas. As grandes, como a própria P&G, possuem seus mecanismos e base de dados de consumidores próprios que podem ser utilizados para entregar publicidade com precisão.