A Austrália quer que o Google pague a empresas jornalísticas para divulgar notícias. O Google não gostou. A empresa anunciou nesta sexta-feira (21/01) que vai sair da Austrália – bloqueando a própria página de pesquisas – se o país prosseguir com a regulamentação.
Após uma reunião entre Mel Silva, a vice-presidente da empresa na Oceania, com senadores e membros da comissão responsável pelo projeto de lei, o Google emitiu um comunicado oficial com oito motivos por que considera injusta a medida tomada pelo governo australiano. O documento cita que a empresa não se opõe a regulamentação, mas considera que os termos adotados pelo Senado prejudicam especificamente o seu serviço. Além disso, declara que a legislação é imprecisa na definição sobre o que são portais de notícias.
“Privilegiar” a mídia
De acordo com o Google, a Austrália estaria tomando medidas unilaterais que privilegiam os portais de notícias. Para exemplificar, menciona trechos do texto de lei que exigem que o Google deverá notificar com até 14 dias de antecedência os portais sobre qualquer alteração feita em seus algoritmos.
Além disso, declara que o governo australiano não estaria levando em consideração que o Google também presta serviços, conectando gratuitamente os usuários aos sites jornalísticos. De acordo com a empresa, hoje, nenhum site no mundo precisa pagar para que o seu conteúdo chegue até alguém e que ao impor o pagamento sob estes serviços, o país estaria infringindo os princípios de uma internet livre.
Para completar, o documento ainda menciona nomes como Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web (www), como apoiador de uma internet sem regulamentações. A empresa declara que desde sua chegada ao país, em 2002, já contribuiu com A$ 53 bilhões, aproximadamente R$ 222 bilhões, além de da criação de 1.800 empregos diretos e 116.000 outros postos de trabalhos indiretos. O manifesto completo pode ser lido na página oficial do Google.
Alternativas propostas
O Google também disponibilizou uma carta aberta da vice-presidente da empresa aos responsáveis pelo texto da lei. De acordo com a executiva, a última coisa que o Google quer é sair da Austrália. No entanto, a empresa não enxerga uma alternativa caso os governantes não concordem com os termos propostos.
A empresa sugere permitir a negociação direta entre Google e sites jornalísticos sobre os valores das notícias, de modo que, ao invés de emitir uma precificação padrão pelos links, a empresa sugere a inclusão dos portais australianos no News Showcase.
O Showcase é um produto de curadoria de conteúdo do Google News com matérias e outras produções exclusivas. Ele funciona como uma espécie de Paywall em que o acesso ao conteúdo só pode ser feito mediante os links fornecidos pelo Google. Deste modo, a empresa só pagará por aqueles conteúdos que realmente tiverem acesso.
Além disso, a empresa pede para que o Senado descarte a obrigatoriedade na notificação de 14 dias para sites de notícias sobre mudanças em seu algoritmo. Segundo o Google, este intervalo torna inviável quaisquer testes ou medidas de inovação feitos na Austrália.
A empresa sugere a provisão de um meio de notificação razoável, apenas sore mudanças significativas e acionáveis sobre os seus produtos. A vice-presidente encera a carta declarando que há um caminho amigável para resolver esta situação e que seu objetivo é trabalhar em apoio ao governo para que a Austrália seja referência em inovação no mundo.
Google é empresa que mais lucra com anúncios
Apesar das alegações do Google, os levantamentos feitos pelo senado australiano nos últimos 18 meses comprovam que a empresa é detentora de mais da metade dos lucros provenientes de anúncios na internet no país.
De acordo com o levantamento, na Austrália, para cada A$ 100 (dólares australianos; R$ 407) gastos em publicidade online, A$ 53 (R$ 215) vão para o Google, A$ 28 (R$ 114) para o Facebook e apenas A$ 19 (R$ 77) para outras empresas de mídia. E essa parcela inclui outros gigantes internacionais como o Twitter e TikTok, deixando uma parcela muito pequena para veículos locais.
A situação é basicamente a mesma no Brasil e no resto do mundo. Essa é a chave para entender a crise de financiamento do jornalismo no mundo, que faliu sites como o a Vice e o BuzzFeedNews e levou à adoção quase universal de paywalls. Quase ninguém consegue mais viver de publicidade. As agências desistiram de fazer anúncios diretos em sites, que rendiam muito mais às empresas de mídia, porque anúncios do Google e FB são direcionados. Isto é, são customizados pelo que as empresas sabem das pessoas por suas pesquisas ou seus perfis.
Na prática, a renda que antes ia para os sites de jornais fica com as big techs. Além do Google, o Facebook também tem demonstrado uma postura agressiva em relação a legislação. A rede social não ameaçou deixar o país, mas declarou recentemente que pode limitar o conteúdo que aparece no feed dos australianos.
Via TechCrunch
Imagem: Solen Feyissa/Unsplash