Os bloqueios à internet – uma tática frequentemente utilizada por regimes autoritários – custaram à Índia quase US$ 2,7 bilhões (cerca de R$ 14 bi) em 2020, segundo um relatório do site Top 10 VPN, que rastreia VPNs e ferramentas de privacidade. Esse número é bem próximo dos US$ 2,4 bilhões em perdas da avaliação da Câmara de Comércio da Caxemira, uma das regiões mais afetadas pelos cortes empreendidos pelo governo do primeiro-ministro Narendra Modi.
O território de Jammu e Caxemira ficou sem internet de agosto de 2019 até março de 2020. As paralisações foram tão devastadoras que alguns usuários na região precisaram recorrer ao uso da tecnologia 2G para operações na rede. A suspensão só foi possível depois que o primeiro-ministro aboliu o artigo 370 da Constituição indiana, que concedia autonomia a administrações estaduais em alguns setores.
Líder em horas inativas
De acordo com informações do Top 10 VPN, a Índia lidera a lista de países que mais perderam dinheiro devido a bloqueios na internet. O valor desperdiçado pelo Estado asiático ultrapassa o montante combinado dos dez países abaixo na relação (ver gráfico abaixo). A Índia, que teve o serviço de internet cortado 83 vezes em 2020, também encabeça o ranking de tempo offline, com 8.927 horas inativas contra 8.808 de Myanmar (Birmânia).
O fechamento de acesso à rede na Índia aconteceu em meio a uma série de manobras autoritárias do governo Modi. Durante o período, o primeiro-ministro e seus aliados prenderam centenas de cidadãos da Caxemira sem acusações formais, intimidaram jornalistas e suprimiram relatórios econômicos negativos. Seus críticos acusam o primeiro-ministro de eliminar tradições de democracia e secularismo na Índia. O governo, em resposta, afirma que tenta impedir a disseminação de desinformação no país.
O mais irônico na situação é que, em meio ao bloqueio, Modi anunciou no ano passado um plano de levar internet de banda larga para todas as cidades indianas até 2023.
Via The Next Web
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