Influenciadas por um boom de IPOs nas bolsas americanas, várias empresas de tecnologia da Europa se preparam para começar processos de abertura de capital no ano que vem. Entre as candidatas a listagem, estão a Deliveroo, startup de entrega de comida apoiada pela Amazon, a Darktrace, uma firma de cibersegurança financiada pelo empresário britânico Mike Lynch, e a Auto1, uma empresa de serviço de carros usados.
“Houve uma tempestade perfeita para mercados de capitais [em 2020] e uma mudança nos padrões de consumo devido à pandemia de Covid-19”, explica Par-Jörgen Pärson, sócio do Northzone, um dos primeiros fundos que investiram no Spotify. “Nunca vi nada do tipo em toda a minha carreira no mercado financeiro. Isso prepara o terreno para uma safra de 2021 que verá dezenas de saídas e IPOs no ecossistema da Europa.”
O entusiasmo europeu se deve ao recente boom de IPOs por empresas de tecnologia como Airbnb e Snowflake na bolsa de valores dos Estados Unidos. O Airbnb, famoso serviço de compartilhamento de casas, estreou em 10 de dezembro e logo no primeiro dia teve as ações disparadas em 115%. Como resultado, o valor de mercado da empresa está avaliado agora em mais de US$ 100 bilhões (R$ 510 bi).
O caso da Deliveroo
Embora hoje seja lucrativa, a Deliveroo, uma empresa que opera em normas semelhantes às do iFood no Brasil, esteve à beira do colapso no início do ano. Foi depois de apelar à autoridade de concorrência no Reino Unido que a empresa conseguiu fechar um acordo de financiamento de US$ 575 milhões (em torno de R$ 3 bilhões) com a Amazon.
Com as contas em dia, a Deliveroo nomeou a Goldman Sachs e a JPMorgan para gerenciar uma IPO de 35 a 40% do seu capital no primeiro semestre de 2021, segundo a Reuters. Londres e Nova York são as principais opções de bolsa.
“Em 2021, veremos muito mais IPOs”, avalia Per Roman, sócio-gerente da consultora financeira GP Bullhound. “É um crime você ser membro do conselho de uma empresa privada de tecnologia e não querer abrir o capital.”
Londres e Amsterdã no centro do boom
De acordo com Barry Meyers, diretor da JP Morgan na Inglaterra e na Irlanda, o ano de 2020 trouxe boas perspectivas para a bolsa de Londres, apesar da consolidação do Brexit e da pandemia de Covid-19. Meyers conduziu a IPO da empresa de e-commerce The Hut Group em setembro – o maior índice desde 2015.
“O mercado britânico é visto como o mais atraente desde a flutuação da THG e não há uma diferença de avaliação entre EUA e Londres para empresas de tecnologia consideradas de ponta”, afirmou.
Algumas empresas, porém, entendem que podem se beneficiar de IPOs locais. Investidores citam, por exemplo, a empresa de serviços financeiros holandesa Adyen, que em 2018 abriu seu capital na Euronext Amsterdã. Na opinião de alguns deles, a bolsa neerlandesa pode se aproveitar da incerteza em torno do Brexit para listar empresas europeias.
O Velho Mundo, entretanto, ainda enfrenta problemas para concorrer com o capital americano. “Esses mercados estão anos e anos atrás”, afirmou Roman, quando questionado sobre o porquê do Spotify, uma companhia sueca, ter priorizado o mercado dos EUA em vez do europeu.
Outro fator negativo para a Europa é a possível recuperação de indústrias afetadas pela pandemia do coronavírus, como o setor petroquímico.
Via Business Insider
Imagem: Alena Kravchenko/iStock