Um estudo feito pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, constatou que o grafeno pode ser utilizado para fabricar discos rígidos de densidade ultra-alta (HDD), oferecendo um armazenamento físico dez vezes superior em comparação às tecnologias atuais. A pesquisa foi conduzida em conjunto com a Universidade de Exeter, além de equipes na Índia, Cingapura, Suíça e Estados Unidos.
Apesar da recente ascensão dos SSDs — a venda de unidades solid-state suplantou a de discos rígidos em 2020 —, os HDs ainda são bastante utilizados para backups de sites e arquivos em nuvem e podem armazenar um grande volume de dados. Em celulares, os discos rígidos foram adotados em alguns modelos dos anos 2000 como o Samsung SGH-i300, o pioneiro na tecnologia, e o popular Nokia N91, um dos primeiros smartphones dedicados à reprodução de música (possuía suporte para extensões hoje pouco utilizadas em celulares como .wav e .midi). Se encolhidos assim, talvez possam voltar, dando uma capacidade que hoje só se encontra em computadores.
A tecnologia do grafeno nos HDs
De que forma, no entanto, o emprego do grafeno na produção de discos rígidos possibilitaria um salto de armazenamento? Os dois principais componentes dos HDs são os pratos, responsáveis pela gravação de dados, e a cabeça de leitura. Desde os anos 1990, segundo a pesquisa, o espaço entre as estruturas tem sido diminuído — de 12,5 nm para 3 nm, sendo mais preciso — para permitir uma maior quantidade de armazenamento e velocidade de operação.
Investigando questões relacionadas a atrito, estabilidade térmica e lubrificação, os pesquisadores substituíram o revestimento de carbono que protege os pratos dos HDs — contra danos mecânicos e afins — por uma a quatro camadas de grafeno e os resultados foram extraordinários. Segundo a pesquisa, as faixas de grafeno reduzem pela metade o atrito e fornecem uma melhor resistência à corrosão e ao desgaste do que as soluções de última geração. Com isso, a distância entre os pratos e a cabeça de leitura pode ser atenuada sem perder capacidade de armazenamento físico, abrindo espaço para uma nova tecnologia conhecida como gravação magnética assistida por calor (HAMR, na sigla em inglês).
De acordo com os pesquisadores, a combinação das tecnologias ganha potencial para superar os HDs atuais, fornecendo uma densidade de dados superior a 10 terabytes por polegada quadrada. “Este trabalho mostra as excelentes propriedades mecânicas e de resistência à corrosão do grafeno”, explica o professor Andrea C. Ferrari, diretor do Cambridge Graphene Center, instituição da universidade que fez a pesquisa. “Considerando que, em 2020, cerca de um bilhão de terabytes de armazenamento de HD foi produzido, esses resultados indicam um caminho para a aplicação do grafeno em tecnologias de ponta.”
O grafeno tem sido uma das promessas da indústria da tecnologia nos últimos anos. O material carbônico é apontado como promissor por sua leveza e por ser menos danoso ao meio ambiente. No caso da tecnologia móvel, o grafeno é apontado como o futuro das baterias, que atualmente são o principal problema dos smartphones. Dois anos atrás, rumores falaram sobre a possibilidade da Samsung produzir um celular com bateria de grafeno, o que nunca se consolidou.
Via Slashgear
Imagem: Benjamin Lehman/Unsplash/CC