Dispositivos eletrônicos, como os telefones celulares, são inevitavelmente um problema ambiental. Desde o momento em que é extraída do meio ambiente a matéria-prima de baterias, telas, e outros componentes, passando pela sua produção, até a hora do descarte do aparelho que não terá mais uso, ou que deixou de funcionar de vez. Inclusive, a emissão de carbono é uma das grandes preocupações relacionadas ao desenvolvimento de celulares e demais equipamentos que busquem ter um foco ecologicamente correto.
Só para termos uma ideia, a fabricação de smartphones gera um volume absurdo de emissão de carbono, por conta de processos de mineração que extraem componentes como ouro, tungstênio e cobalto da terra, por exemplo. Em números, é possível registrar algo em torno de 125 megatons de CO2 por ano. Neste cenário, muitas empresas têm buscado desenvolver celulares com características o mais ecologicamente corretas possível hoje em dia. Dois desses smartphones se destacam e vamos apresentar aqui, além de uma menção especial para os iPhones, que estão se tornando mais sustentáveis a cada geração.
Teracube 2e
Uma das opções recentes mais interessantes é o Teracube 2e, um celular ecologicamente correto que é desenvolvido com 25% de plástico reciclável. O celular se tornou viável por meio da plataforma de financiamento coletivo online Indiegogo e foi projetado para durar pelo menos quatro anos ou mais.
Outro ponto relevante para as características responsáveis ambientalmente do Teracube 2e é que sua bateria de 4000 mAh é removível. Ou seja, quando é necessário fazer a troca somente dessa peça do celular, basta retirá-la do aparelho, de forma prática, sem precisar da ajuda de um técnico, ao contrário do que acontece quando os aparelhos trazem uma bateria que não sai do corpo. Aliás, muitas vezes, acaba sendo fatal ter que descartar o celular todo quando a bateria embutida morre de vez.
O Teracube 2e vem com um módulo traseiro de câmeras composto por um sensor principal de 13 MP e um sensor auxiliar de 8 MP. Na frente, a tela HD+ de 6,1 polegadas traz uma câmera selfie de 8MP. Outras especificações são o processador Helio A25 octa-core de 1,8Ghz da MediaTek rodando um Android 10, com 4 GB de RAM e 64 GB de armazenamento interno.
Reforçando seu ideal ecologicamente correto, o celular vem em uma embalagem ecológica, em material biodegradável, com tinta de soja e papel reciclado. O telefone é feito sob demanda e, para ter um Teracube 2e, o comprador brasileiro vai desembolsar algo em torno de R$ 1.250, variando conforme impostos e taxas.
Fairphone 3 Plus
Conhecida por produzir telefones com materiais sustentáveis, a Fairphone é responsável pelo celular Fairphone 3 Plus, ecologicamente correto, feito com 40% de plástico reciclado. Além disso, o smartphone oferece um design voltado especialmente para reparos mais fáceis, possibilitando atualização de peças e melhor reciclagem. Em outras palavras, o Fairphone 3 Plus vem com módulos substituíveis, onde o próprio usuário pode desmontar, fazer trocas e até mesmo reparos, em alguns casos.
Para ir um pouco além no compromisso com questões como sustentabilidade, que não se limita a cuidados com a natureza, a empresa afirma que seus funcionários de fábrica recebem bônus de salário mínimo. Esse detalhe é bem interessante, tanto por ser algo que a Fairphone faz questão de registrar, como por estarmos em uma realidade de conflitos sociais e trabalhistas pelo mundo, envolvendo inclusive outras fabricantes de eletrônicos.
O Fairphone 3 Plus tem uma câmera Full HD+ de 5,65 polegadas, com uma câmera frontal de 16 MP. Atrás, há um módulo com uma câmera de 48 MP acompanhada de um flash LED. Um Snapdragon 632 octa-core da Qualcomm, com frequência de 1,8Ghz faz o aparelho rodar um Android 10, sendo 4 GB de RAM e 64 GB de capacidade interna, expansível via microSD. A bateria removível do celular possui 3040 mAh e são 2 anos de garantia oferecidos pela empresa. O Fairphone 3 Plus sai por 439 Euros, que são hoje R$ 2836, aproximadamente, sem impostos ou taxas, porém, o aparelho não está disponível no momento. Além disso, não há, a princípio, informação sobre quando voltará ao estoque e nem se é possível adquirir no Brasil, infelizmente.
Alguns outros celulares relevantes para o pensamento ambiental
As características gerais de um smartphone que tenha foco ecológico abrangem, além de materiais recicláveis, um consumo de energia reduzido e materiais não tóxicos. Outros indicadores de respeito ao meio ambiente são a durabilidade e as baixas taxas de emissão de radiação.
Dentre os celulares que podemos considerar bem nessa linha está o Microsoft Lumia 500, lançado entre os anos de 2014 e 2015, feito com 0% de níquel e plástico, e nível baixíssimo de radiação. De alguns anos recentes, podemos citar também o Sony Xperia Z, produzido em uma boa parte por material reciclável, o Samsung Captivate e o Huawei Ascend W1, que a fabricante chinesa informa ser feito 100% de plástico reciclado e com baixos índices de radiação.
A partir do iPhone 6, a Apple iniciou um acelerado movimento em busca de trazer celulares ecologicamente corretos para o mercado. Os lançamentos da Maçã passaram a ter um invólucro reciclável, além de adaptadores de alimentação altamente eficientes. Nesta parte, é reforçado o argumento de que a eficiência energética é um importante critério na sustentabilidade.
Celulares que se preocuparam com o meio ambiente
Os dois celulares do início da matéria são os mais conhecidos hoje em dia que possuem diferencial ecologicamente correto. Durante a história dos telefones móveis, alguns outros aparelhos surgiram trazendo proposta nessa linha, como foi o caso dos outros telefones acima. Já o Motorola W233 Renew, o Sagem Puma Phone e o Samsung Blue Earth, são casos ainda mais antigos um pouco.
Lançado em 2009, o Motorola W233 Renew tinha como destaque ecologicamente correto ser produzido em processo certificado como livre de carbono, tendo 100% de carcaça feita em plástico reciclável. Na época, ele tinha um preço bem acessível, de R$ 150 aproximadamente, com o dólar valendo por volta de R$ 2,5.
O celular com o nome da famosa marca de calçados e outros vestuários esportivos foi desenvolvido pela extinta multinacional francesa Sagem Wireless e surgiu em meados de 2010, trazendo um painel solar cobrindo toda sua parte traseira. O foco ecológico do Sagem Puma Phone estava em carregar a bateria de 880 mAh por meio de luz natural, e o usuário precisava só ficar atento aos status de carga que eram avisados como, “Cheio”, “Feliz”, “Com fome” e “Alimentação”.
Outras características do telefone eram sua tela já pequena para a época, com 2,8 polegadas, a câmera de 3,8 MP e a memória de 64 MB. Além disso, o aparelho vinha em uma caixa de papelão ecológico, porém, é curioso notar que, aparentemente, o Puma Phone gostava de usar plástico. Por fim, cabe notar que era um pouco raro encontrar um desses aqui no Brasil.
Já o Samsung Blue Earth também trazia o recurso de carregamento de bateria com energia solar como uma característica ecologicamente correta. Não só isso. O telefone da coreana, lançado em 2009, era desenvolvido com plástico reciclável de garrafas PET.
O Blue Earth trazia um pedômetro, uma espécie de calculadora ecológica que informava o quanto estava sendo economizado em recursos naturais quando o usuário deixava o carro em casa. Uma hora de luz solar carregando a bateria de 1080 mAh se traduziam em 24 minutos de conversas no celular da Samsung, que era mais comum de se encontrar aqui no Brasil que o Puma acima.
O terceiro celular ecologicamente correto
Vimos acima dois aparelhos que foram lançados há poucos anos e que pensaram de forma ecologicamente sustentável, e no começo da matéria, dois outros que estão no mercado hoje em dia e que trazem essa preocupação com o meio ambiente. Um terceiro aparelho que podemos considerar de forma ecológica é este que estamos usando agora, que pode ser até mesmo o mais ecológico de todos.
Se for ver, descartar o telefone que temos agora e adquirir um novo não deixa de ser o mesmo que colocar mais um aparelho no mundo e iniciar um processo de criação de resíduo. É claro que não há como, diante do cenário tecnológico atual e da necessidade crescente de comunicação remota, descartar para sempre o uso de aparelhos celulares ou fazer com que eles sejam imortais.
Porém, uma prática sustentável é cuidar bem dos nossos aparelhos atuais, tendo o zelo necessário para que não se precise trocar peças ou o celular inteiro a cada ano. Alguns analistas afirmam que a vida útil de um celular é de três anos, em um uso moderado e cuidadoso. O complicado é que três anos é um tempo relativamente longo tendo em vista as inúmeras atualizações de software e lançamentos de novos serviços inacessíveis por meio de um sistema operacional mais antigo.
Todos pensando ecologicamente
Ou seja, o ideal seria que as fabricantes de hardware e software tivessem ainda mais foco na diminuição de resíduos, além dos projetos que já existem hoje. Por exemplo, na Europa, há legislação buscando estimular a facilidade de manutenção, já a Samsung possui um programa que ensina a reciclar e reaproveitar celulares antigos. A Apple vem anunciando ações positivas, como é o caso do seu programa de reparos, que inclui até o Brasil, além de suas metas de zerar emissão de carbono em 10 anos.
Já da nossa parte, usuários de celular, precisamos ter em mente que, quando é inevitável descartar um aparelho celular, é possível fazer isso de forma ecologicamente sustentável. No caso, podemos seguir conforme postamos aqui, também buscando empresas especializadas em descarte responsável. Resumindo, o cuidado com o meio ambiente é uma questão de todos, desde as grandes empresas, os governos e de nós mesmos e nossos hábitos.
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