App do Governo incentiva (de forma absurda) uso de cloroquina - Vida Celular

Vida Celular

Tudo sobre os melhores celulares

Nós do Vida Celular e nossos parceiros utilizamos cookies, localStorage e outras tecnologias semelhantes para personalizar conteúdo, anúncios, recursos de mídia social, análise de tráfego e melhorar sua experiência neste site, de acordo com nossos Termos de Uso e Privacidade. Ao continuar navegando, você concorda com estas condições.

Um app para uso restrito dos profissionais da medicina foi lançado pelo governo federal para promover o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. O país atualmente é o único do mundo que ainda recomenda o uso do medicamento, que comprovadamente não tem nenhum resultado na redução da mortalidade de pacientes com Covid-19. Além de não funcionar no tratamento, a hidroxicloroquina pode agravar os quadros e causar morte de pacientes, como mostrou um estudo feito no ano passado.

publicidade

Além desses medicamentos ineficazes para os casos de Covid-19, ivermectina, azitromicina e doxiciclina são outros remédios comprovadamente sem eficácia promovidos pelo TrateCOV (nome do app). Segundo o Ministério da Saúde liderado pelo Gen. Eduardo Pazuello, a plataforma funciona como uma espécie de ferramenta virtual para a orientação de profissionais da saúde. Após o diagnóstico de cada caso, o app sugere quais medicamentos (todos comprovadamente ineficazes) são necessários para o “tratamento” do paciente.

No app desenvolvido pelo governo, o paciente tem o direito de aceitar ou não os medicamentos sem eficácia recomendados. Mas, caso o paciente se negue a usar os produtos (ineficazes para o coronavírus, lembramos mais uma vez), o profissional(?) vai registrar a resposta negativa e o motivo alegado. Caso contrário, o procedimento é iniciado, mesmo que os remédios tenham sido rejeitados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

App perigoso e charlatanismo

Para profissionais da área de infectologia, o app pode ser considerado uma arma muito perigosa contra os próprios pacientes. A ingestão indevida de antibióticos, como a azitromicina e a doxiciclina, que o app possui em sua lista de sugestões, pode aumentar o risco de surgimento de superbactérias, por exemplo.

Outros questionamentos são importantes, ainda mais em período de novos surtos da pandemia. Por exemplo, o uso da estrutura e do dinheiro públicos para a criação e difusão de um app como esse. Quanto se gastou dos cofres públicos para promover o que para muitos especialistas é uma espécie de charlatanismo? Outro enorme gasto recente, para reforçar o questionamento, ocorreu quando o governo utilizou o Laboratório do Exército para fazer mais de 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina.

O Ministério da Saúde, por meio do próprio ministro Pazuello, fez o anúncio do app em Manaus ontem (14/01), ou seja, no meio da crise de saúde enfrentada pela capital do Amazonas. A ferramenta é tratada como um ambiente de simulação e está para uso exclusivo de médicos e enfermeiros que atuam na secretaria de saúde do município. A cidade sofre um novo colapso de saúde, com a falta de cilindros de oxigênio para os pacientes da Covid-19. Segundo Pazuello, o app do governo Bolsonaro para incentivo do uso da cloroquina poderá ser liberado em breve para outras regiões do país.

Carta aberta de ex-presidentes do CFM

Logo após o lançamento do app do governo para promover cloroquina e outros remédios ineficazes para Covid-19, ex-presidentes e ex-conselheiros do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgaram uma carta aberta, exigindo posicionamento muito mais consistente do Conselho diante da atual situação. Mesmo depois da pressão, o CFM ainda não se pronunciou sobre o app e nem sobre o uso de remédios sem comprovação científica, apesar de ter divulgado uma esperada nota defendendo o uso das vacinas contra a Covid-19.

Os responsáveis pela carta, entre outras coisas, exigem do CFM um posicionamento a favor da vacinação e pela continuidade da adoção das outras medidas de controle reconhecidas cientificamente, como distanciamento social, higiene pessoal e uso de máscaras. Eles também exigem que o CFM oriente a população médica brasileira quanto ao adequado comportamento ético a ser adotado nesta pandemia de Covid-19, evitando o uso de condutas terapêuticas sem respaldo científico.

Via UOL Notícias

Imagem: Maksim Tkachenko (iStock)