O Tech Transparency Project publicou ontem (01/06) um texto demonstrando como o YouTube não está conseguindo impedir a proliferação das fake news sobre as vacinas da Covid-19 de circularem na plataforma. O resultado disso é a existência de grande quantidade de conteúdo conspiracionista no app, o que atrapalha ainda mais a confiança da população na eficácia das vacinas, algo essencial para que a vacinação seja bem-sucedida, o que é a maior prioridade do Brasil e do mundo em 2021.
Essa foi a mesma conclusão desse artigo da revista científica Frontiers em outubro, e que contou inclusive com a participação de pesquisadores brasileiros, já havia apontado a relação entre o YouTube, as fake news e a desconfiança sobre as vacinas. Na época, a plataforma de vídeos havia se pronunciado a respeito disso e até anunciado uma política voltada especificamente para o problema.
YouTube não conseguiu impor regras de forma eficiente
Infelizmente, porém, podemos perceber que o estabelecimento de novas regras não teve tanto efeito prático, já que inúmeros vídeos que as violam foram encontrados pelo Tech Transparency Project. Dentre os vídeos, há aqueles que alegam uma relação direta entre as vacinas e aumento de mortes, bem como entre vacinas e casos de abortos espontâneos. Outros vídeos, ainda, chegam a afirmar que as vacinas causam danos permanentes à saúde. Em todos os casos, é claro, não foi fornecida nenhuma prova de que essas coisas realmente ocorram.
O mais preocupante, no entanto, é que alguns vídeos foram capazes até mesmo de serem monetizados. Um deles, por exemplo, afirma que as vacinas da Pfizer e da Moderna contêm substâncias tóxicas enquanto, ironicamente, um anúncio da American Lung Association (Associação Americana do Pulmão) incentiva a vacinação, como pode ser visto abaixo.
Outra coisa possível de perceber pela imagem é a ausência do painel informativo a respeito da Covid-19. Segundo o projeto, aliás, muitos vídeos semelhantes não possuem o painel. O usuário, com isso, fica mais suscetível a acreditar nas fake news sobre as vacinas encontradas YouTube adentro, justamente por não ter contrapontos imediatos às mentiras apresentadas sobre as vacinas.
A importância de combater as fake news das vacinas
Isso se torna ainda mais complicado nos casos em que fatos e verdades são tirados de contexto, ou informações são dadas pela metade, a fim de propagar falsamente que as vacinas são perigosas. Nesses casos, as estratégias variam, mas geralmente há um embasamento parcial em dados reais sobre as vacinas, cuja interpretação, em contrapartida, exige cuidado e contexto principalmente.
O estudo do Tech Transparency Project menciona, como exemplo, vídeos que usam uma base de dados do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA voltada a denúncias de efeitos colaterais das vacinas, para comprovar supostas mortes causadas por elas. Mas o problema é que a base de dados aceita todo tipo de denúncia, qie pode ser feita sem verificação, e até agora não encontrou nenhuma relação causal entre as vacinas e as mortes.
Isso, claro, é oportunamente omitido dos vídeos. E, sim, existem ainda aquelas fake news no YouTube a respeito das vacinas que pendem totalmente para a parte fake do termo, por exemplo, absurdos como vacinas magnetizando as pessoas vacinadas, mas essas são menos impactantes justamente pelo seu extremo contrassenso.
É só cumprir as suas próprias regras de uso
Enfim, é inegável o dano que a permanência de conteúdos com tanta desinformação na plataforma causa. Embora, como mencionamos anteriormente, o YouTube tenha se posicionado e se comprometido a eliminar as fake news, parece ainda faltar severidade na imposição das regras de uso do app/site. E isso precisa ser feito com urgência, já que o enfrentamento à Covid-19 com as vacinas precisa atingir uma grande parcela da população para funcionar, como mostra o Projeto S do Instituto Butantan, um teste feito com a população de Serrana, São Paulo, que fez casos da Covid-19 caírem em 80% e mortes, em 95% na cidade. Vacinas salvam vidas, e fake news causam mortes, assim o tema é muito grave e urgente.
Imagem: Polina Tankilevitch/Pexels